domingo, 20 de março de 2011

Amigo é coisa pra se guardar....



Eu sou também Escrivã de Polícia, alguns anos de instituição, quase 20, e dentre vários amigos que fiz nessa convivência diária de uma das labutas mais duras dessa terra, conheci o EPC Carlos Jorge dos Santos Silva, o Jorginho, como todos o chamavam, primeiro na DEAM, depois na DPA, e lá trabalhamos juntos, todos esses dias, até a sua partida para o além...
Conviver com Jorginho não foi difícil, ele era um espírito livre, era alegre, tinha muitos amigos, e também como eu tinha uma grande boa vontade em ajudar todos aqueles que necessitavam de alguma ajuda, dos serviços mais simples que a instituição oferece, até o mais complexo, sempre orientando e encaminhando quando lhe fugia a sua competência...isso demonstrava a sua bondade e comunhão com o próximo.
Nosso ambiente de trabalho sempre era regado de muita música, que ele mesmo cantarolava e sempre ao chegar colocava para ouvir no mediaplay de forma aleatória e sempre o que se ouvia na sala do cartório era o melhor da MPB, Chico, Tom, Nana, Caetano, Elis, Milton...entre outros grandes artistas que em nosso país fazem coisas para se deliciar a alma...
Era nesse ambiente alegre, harmônico que trabalhávamos, sempre um assunto referente as novas leis do Brasil, dentre as infindáveis leis que se aprovam e as incongruências das mesmas. Muitas vezes referia-se ao ECCA com ironia, que menores eram tratados como “pequenos na forma da lei e grandes em requinte de crueldade na prática do crime” , ele desabafava, como se profetizando o seu trágico fim!
Era polêmico e político, detestava injustiça e abominava a violência, essa mesma, que tiraria a sua própria vida. A vida que ele tanto amava, que vivia com intensidade e com amor, amor demonstrado em cada membro de sua família, no trabalho, na faculdade, em todos os lugares que andava ele era querido e amado, sensível e delicado, esse era o meu amigo Jorginho...
Voce que me ensinou muitas coisas, sempre quis repassar o que sabia, dividia a informação, o saber, o conhecimento, o que tinha era compartilhado com o próximo; eu não via egoísmo ou qualquer um tipo de sentimento pequeno em seus atos, isso demonstrava a leveza e a grandeza de seu ser.
Ele tinha completado 51 anos no dia 17 de fevereiro, nós não comemoramos, porque sempre reunimos no final de cada mês para fazer uma festa para os funcionários que aniversariam a cada 3 meses. Exatamente um mês depois, dia 17 de março, ceifaram de maneira absurda e hedionda a vida de um dos melhores escrivães que a polícia já teve, e um dos pais mais carinhoso e apaixonado, irmão e filho dedicado e para mim um dos meus melhores amigos...
Jorginho parte e deixa uma lacuna na vida de muita gente. Deixa na Instituição o exemplo a ser seguido de honestidade, inteligência e educação. Deixa na ASEPOL a garra que não devemos desistir de nossas convicções. Deixa na Esmac, onde fazia o curso de Direito, o sonho que se deve sempre perseguir. Deixa na família um vazio e uma lembrança de carinho e delicadeza, respeito que se deve ao próximo. Deixa em mim um exemplo e valorização e convivência de que a vida deve ser encarada com mais leveza, essa mesma leveza que pairava sempre no seu coração...
Agora eu vou lembrar cada música que você cantava e também continuarei a cantar, porque sei , “ que qualquer dia amigo a gente vai se encontrar....”
EPC DELMA FERREIRA
DPA

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